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quinta-feira, 7 de março de 2019

O poema que não decidi o fim


21/02/2019

Naquele dia seu sorriso choveu.
E eu colhi cada riso.
E então, não éramos mais um cada um,
*...

*Mas um buquê.

*Mas dois que formavam três.

*Nós florimos

*éramos primavera

*transbordamos

*Nós fodemos

* escreva o fim que você achar melhor aqui:

Ismália da vila do mar


06/06/2017
Ela era poesia e os tempos eram de guerra. Tinha a estranha mania de viver sorrindo. Preferia estar sempre fora de casa, admirando a natureza ou lendo. Escandalizava a vila inteira porque tomava banho de mar.
Mas o que ela fazia, que mais chocava a todos, era o costume de declamar seus poemas, do alto da estátua do fundador da vila, sempre que o sol estava se pondo: odes a natureza.
Alguns riam, não entendiam porque tanto deslumbramento pelas coisas que sempre estiveram ali e sempre estariam. Outros recriminavam seu velho pai, dono da livraria da cidade, que permitia o excesso de exposição da jovem.
Até que um dia, o conde passava pela vila, e notou Ismália, que do alto da estátua do seu tataravô, parecia em êxtase: o rosto rubro, a boca inquieta e cheia, os olhos que brilhavam e o vestido que pingava. Na mesma hora decidiu tomar Ismália como amante.
De todas as formas a cortejou. Mandou jóias, chamou para jantares, elogiou sua beleza e até dispôs a biblioteca particular do castelo da família para que a jovem visitasse sempre que quisesse.
Mas Ismália sempre o repelia, mal o notava. Prezava por sua liberdade, e sabia que ceder minimamente ao conde poderia pôr tudo a perder.
Enfurecido com o desprezo da jovem, o conde mandou prender Ismália na torre mais alta do castelo:
-Se tu não fores minha, não serás de mais ninguém. E o mar, fitarás todo dia de longe, sem nunca mais poder nele entrar.
O pai da jovem tentou protestar, mas o conde insistia que fazia aquilo pela segurança da moça, alegando que ela tinha enlouquecido. E o povo da vila apoiava. Estavam até aliviados. A liberdade de Ismália ofendia, pois, em comparação, a vida deles parecia uma prisão.
Numa noite de banquete no castelo, depois do conde beber muito, foi até Ismália, e com violência arrancou a roupa da menina, que se debatia e protestava, mas acabou perdendo, e ficando completamente despida. Enquanto o conde, triunfante, cambaleava para tirar a própria roupa, Ismália, desesperada, subiu no parapeito da janela da torre.
-Desça Ismália, tu não tens para onde fugir.
Sentindo a lua cheia em seu corpo, Ismália sorriu entre lágrimas. Abriu os braços, fitou as ondas que se quebravam sobre a torre, e, sem olhar para trás, respondeu:
-Adeus, conde, meu corpo só pertencerá ao mar.

Predestinação desviada


13/06/2017
Vida de pescador é sina
marcada na alma com água de sal.
E mesmo o menino,
hoje já doutor,
pra sempre lembraria dos dias de pescaria
com o pai na jangada fina,
que de longe até parecia
que ele andava sobre o mar.

Nunca me disseram que seria fácil existir

19/07/2018

Era o tal negócio: você existe, então espera que seja fácil permanecer. Mas não é bem assim. Especialmente quando você torna o viver num ato de liberdade. Em que você é o seu eu, não aquele eu que os outros esperam.
É difícil viver com empatia. Você entende o mundo por mais fudido que ele seja. Ao mesmo tempo, você percebe que vive num grande hospício. É difícil ser uma das poucas pessoas sã.
Digo sã, no sentido de ver a realidade e viver de acordo com princípios racionais. Nada não sentimental não, acredite, até no amor é preciso entender, ainda que nem sempre seja possível descrever com palavras.
Hoje eu percebo porque é difícil ser eu. Tenho dificuldade de lidar com pessoas, apesar de entendê-las. Existe um vazio de palavras entre mim e as pessoas, e sinto uma enorme dificuldade de preencher esse vácuo em determinadas situações.
Acho que por ser segura do que eu gosto, posso ou não posso fazer, soou muitas vezes pedante. Nunca foi minha intenção, mas não gosto de me desculpar por ser eu. Quem me entende que me ame, quem não que me ponha de lado.
Na maioria das vezes sou posta de lado. Às vezes me importo, sinto o vazio de tantos que me deixam. Mas acaricio o vazio e o preencho com meu azul.
Meus muitos interesses me cansam. Mas me impelem, fazendo com que eu siga em frente. Acho que é um dos principais motivos pelo que permaneço.
Outro motivo é o amor. Sim, eu amo, se amei um dia o amor permanece. Muitas vezes muda, mas eu não esqueço. O amor em mim é um espiral infinito de diversas cores e com inúmeros compartimentos.
No mais, afora o amor, eu me apaixono. Me apaixono por mim, as vezes pelas cores, ou mesmo por um gesto. A inteligência me deslumbra ou certo há um certo quê de autoridade. Me apaixono por um livro, uma música, uma dança ou por aquele filme que me fez transbordar. Essas paixões somem como vieram, escoando rápido rio abaixo.
Penso que desperto inimizades espontâneas, bem como atrações quem nem mesmo as pessoas que sentem sabem explicar. Sinto que meus modos ecoam, e depende apenas da sintonia do outro o que irá ocorrer.
Por vezes, sinto que eu estou de castigo na vida. Como se houvesse algo a aprender quando sou posta a conviver com inúmeras situações sufocantes. Isso é o que me faz querer ir.
Mas eu sinto que tanto ainda há a ser feito. 
Sei também que correr, não é meramente uma escolha, é parte de mim.
No mais eu me importo. Quero transformar o caos em algo bom. Contribuir para que os múltiplos quebra cabeças existenciais se entrelacem e que o sentido cresça.
Sinto que existo e que me importo e então, percebo enfim, que a única escolha é permanecer.