Pesquisar este blog

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

empatia, brigas e justiça

 

Empatia. Sempre senti empatia, mas a minha primeira lembrança é de briga. Como posso ser empática e briguenta eu não sei, mas sou. Eu brigo principalmente pelo que acho justo. Quando eu me acalmo eu firo a minha natureza sutilmente. Acho justo brigar porque as pessoas erram muito. Eu também erro, mas não tenho problemas de reconhecer o erro e pedir desculpas. Há não ser quando estou impaciente e desgostosa do mundo. Ultimamente tenho estado meio assim. É difícil sorrir para o exacerbado egoísmo e estupidez que nos ronda. Como não dizer a alguém que se revolta porque outro ser humano come, que ele é estupido? Não importa se são presidiários, comer é um direito básico e ninguém deveria ficar revoltado porque outra pessoa come arroz, feijão, carne, frutas e legumes. O fato de outras pessoas não terem acesso a esse básico é que é revoltante. Não, ninguém acha que é o vilão, mas sim, certas coisas nos fazem vilões, mesmo que a gente não pense em nós mesmo desse jeito.

quinta-feira, 7 de março de 2019

O poema que não decidi o fim


21/02/2019

Naquele dia seu sorriso choveu.
E eu colhi cada riso.
E então, não éramos mais um cada um,
*...

*Mas um buquê.

*Mas dois que formavam três.

*Nós florimos

*éramos primavera

*transbordamos

*Nós fodemos

* escreva o fim que você achar melhor aqui:

Ismália da vila do mar


06/06/2017
Ela era poesia e os tempos eram de guerra. Tinha a estranha mania de viver sorrindo. Preferia estar sempre fora de casa, admirando a natureza ou lendo. Escandalizava a vila inteira porque tomava banho de mar.
Mas o que ela fazia, que mais chocava a todos, era o costume de declamar seus poemas, do alto da estátua do fundador da vila, sempre que o sol estava se pondo: odes a natureza.
Alguns riam, não entendiam porque tanto deslumbramento pelas coisas que sempre estiveram ali e sempre estariam. Outros recriminavam seu velho pai, dono da livraria da cidade, que permitia o excesso de exposição da jovem.
Até que um dia, o conde passava pela vila, e notou Ismália, que do alto da estátua do seu tataravô, parecia em êxtase: o rosto rubro, a boca inquieta e cheia, os olhos que brilhavam e o vestido que pingava. Na mesma hora decidiu tomar Ismália como amante.
De todas as formas a cortejou. Mandou jóias, chamou para jantares, elogiou sua beleza e até dispôs a biblioteca particular do castelo da família para que a jovem visitasse sempre que quisesse.
Mas Ismália sempre o repelia, mal o notava. Prezava por sua liberdade, e sabia que ceder minimamente ao conde poderia pôr tudo a perder.
Enfurecido com o desprezo da jovem, o conde mandou prender Ismália na torre mais alta do castelo:
-Se tu não fores minha, não serás de mais ninguém. E o mar, fitarás todo dia de longe, sem nunca mais poder nele entrar.
O pai da jovem tentou protestar, mas o conde insistia que fazia aquilo pela segurança da moça, alegando que ela tinha enlouquecido. E o povo da vila apoiava. Estavam até aliviados. A liberdade de Ismália ofendia, pois, em comparação, a vida deles parecia uma prisão.
Numa noite de banquete no castelo, depois do conde beber muito, foi até Ismália, e com violência arrancou a roupa da menina, que se debatia e protestava, mas acabou perdendo, e ficando completamente despida. Enquanto o conde, triunfante, cambaleava para tirar a própria roupa, Ismália, desesperada, subiu no parapeito da janela da torre.
-Desça Ismália, tu não tens para onde fugir.
Sentindo a lua cheia em seu corpo, Ismália sorriu entre lágrimas. Abriu os braços, fitou as ondas que se quebravam sobre a torre, e, sem olhar para trás, respondeu:
-Adeus, conde, meu corpo só pertencerá ao mar.

Predestinação desviada


13/06/2017
Vida de pescador é sina
marcada na alma com água de sal.
E mesmo o menino,
hoje já doutor,
pra sempre lembraria dos dias de pescaria
com o pai na jangada fina,
que de longe até parecia
que ele andava sobre o mar.

Nunca me disseram que seria fácil existir

19/07/2018

Era o tal negócio: você existe, então espera que seja fácil permanecer. Mas não é bem assim. Especialmente quando você torna o viver num ato de liberdade. Em que você é o seu eu, não aquele eu que os outros esperam.
É difícil viver com empatia. Você entende o mundo por mais fudido que ele seja. Ao mesmo tempo, você percebe que vive num grande hospício. É difícil ser uma das poucas pessoas sã.
Digo sã, no sentido de ver a realidade e viver de acordo com princípios racionais. Nada não sentimental não, acredite, até no amor é preciso entender, ainda que nem sempre seja possível descrever com palavras.
Hoje eu percebo porque é difícil ser eu. Tenho dificuldade de lidar com pessoas, apesar de entendê-las. Existe um vazio de palavras entre mim e as pessoas, e sinto uma enorme dificuldade de preencher esse vácuo em determinadas situações.
Acho que por ser segura do que eu gosto, posso ou não posso fazer, soou muitas vezes pedante. Nunca foi minha intenção, mas não gosto de me desculpar por ser eu. Quem me entende que me ame, quem não que me ponha de lado.
Na maioria das vezes sou posta de lado. Às vezes me importo, sinto o vazio de tantos que me deixam. Mas acaricio o vazio e o preencho com meu azul.
Meus muitos interesses me cansam. Mas me impelem, fazendo com que eu siga em frente. Acho que é um dos principais motivos pelo que permaneço.
Outro motivo é o amor. Sim, eu amo, se amei um dia o amor permanece. Muitas vezes muda, mas eu não esqueço. O amor em mim é um espiral infinito de diversas cores e com inúmeros compartimentos.
No mais, afora o amor, eu me apaixono. Me apaixono por mim, as vezes pelas cores, ou mesmo por um gesto. A inteligência me deslumbra ou certo há um certo quê de autoridade. Me apaixono por um livro, uma música, uma dança ou por aquele filme que me fez transbordar. Essas paixões somem como vieram, escoando rápido rio abaixo.
Penso que desperto inimizades espontâneas, bem como atrações quem nem mesmo as pessoas que sentem sabem explicar. Sinto que meus modos ecoam, e depende apenas da sintonia do outro o que irá ocorrer.
Por vezes, sinto que eu estou de castigo na vida. Como se houvesse algo a aprender quando sou posta a conviver com inúmeras situações sufocantes. Isso é o que me faz querer ir.
Mas eu sinto que tanto ainda há a ser feito. 
Sei também que correr, não é meramente uma escolha, é parte de mim.
No mais eu me importo. Quero transformar o caos em algo bom. Contribuir para que os múltiplos quebra cabeças existenciais se entrelacem e que o sentido cresça.
Sinto que existo e que me importo e então, percebo enfim, que a única escolha é permanecer.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Esquecimentos - Meu primeiro conto premiado


Um dia desses andava pela rua. Um passarinho voou na minha frente e perdi a linha de raciocínio. Fiquei intrigada porque sei que estava em mente uma ideia realmente original. Depois de dedicar dois ou três minutos na tentativa de retomar de onde parei, desisti, pois pensando bem, se era tão importante, não teria se desvanecido tão fácil. Segui em frente.
Mais adiante, na calçada da rua do Aurora, encontrei Ricardo sentado e admirando a bela vista dos últimos raios de sol da tarde refletidos no rio Capibaribe.
-Boa tarde, amigo, como vai Tereza? – perguntei por obrigação social, detestava Tereza e sua antipatia mal disfarçada.
- humm, boa tarde, ela está bem, acho eu. – respondeu Ricardo um tanto ressabiado. Imaginei que o casamento não ia tão bem, se ele estava sozinho num sábado, ainda mais com aquelas roupas esquisitas. A calça Jeans rasgada necessitava de óbvios remendos aqui e ali. 
Crianças correndo e gritando passaram do nosso lado, pareciam animadas e descontraídas. Um pouco mais à frente, sentadas nos bancos, duas ou três mães observavam um tanto apreensivas o movimento das crianças junto de nós dois.
- E os meninos? – perguntei para puxar assunto.
- Parecem felizes – achei meio vaga a resposta de Ricardo, acho que uma separação realmente havia acontecido, talvez já fizesse um tempo, me perguntei como não fiquei sabendo, eram tão próximas as nossas famílias. Pensei se deveria alertar Ricardo, que a separação não era motivo para deixar de ver os filhos, achei melhor não me meter, não sem saber um pouco mais sobre a situação.
- Casamento é complicado, nem sempre dá certo, né? – resolvi dar oportunidade para que o assunto surgisse.
- É, parece que para mim, ainda não deu para chegar lá. E já estou passando da idade. – Achei a resposta enigmática e Ricardo meio melancólico. Como ele parecia solitário, resolvi interromper o meu caminho e sentar do seu lado naquele banco de cimento comprido junto do rio.
- Vê o rio? Ele sempre corre para o mar. Podem ocorrer desvios no caminho, algumas quedas podem surgir, mas olhando de fora são belas as cachoeiras. E o rio produz vida por onde passa. É bonito, além de realmente necessário. Assim são os casamentos: podem ser complicados, mas são necessários à vida. O curso natural do rio é o mar, e o mar é objetivo de ouro, é a chegada no fim da linha. Chegar no final, certos de que fizemos o que estava ao nosso alcance para que a vida fosse plena é o objetivo maior. O mar é olhar para trás e relembrar, feliz, tudo o que passou. As ondas jogam as lembranças na areia, só para as puxarem de volta logo em seguida. É melhor que sejam boas as lembranças, para que o relembrar não seja amargo, é mais bonito quando as ondas são azuis. O rio é turvo, mas no final, no mar, as coisas são mais claras e a gente entende. – Me espantei comigo mesma. Minhas palavras foram espontâneas, mas pareciam que pertenciam a uma idosa, não a mim, que mal tinha completado trinta anos.
- Você deveria escrever isso, é bonito, além de ter sentido, ainda que seja meio estranho. Você tem papel e caneta? Posso comprar pra você. -  O oferecimento educado de Ricardo me deixou pensativa, - É claro que tenho papel e caneta em casa, - enfatizei com um franzir da testa – Vou tentar lembrar até chegar lá. – respondi orgulhosa e confusa.
- Bem, já é hora de ir. Você tem certeza que não quer uma ajuda? Posso garantir o seu jantar dessa noite. – Ele parecia oferecer de modo gentil, mas por algum motivo, apesar de perceber que realmente tinha fome, balancei a cabeça negativamente.
 – Até mais, a gente se vê por ai. – me despedi e segui meu caminho para a Av. Conde da boa Vista, se calhasse, assistiria um filme no São Luiz, se não, talvez umas compras na Mesbla serviriam para me tirar daquele clima meio melancólico que Ricardo me metera. Ou será que eu já estava assim? O que afinal eu estava pensando mesmo? [...] Finais de casamento são tristes, espero que eles se entendam, uma pena que ele não quis se abrir comigo.
Sempre gostei de caminhadas, segui pela Boa Vista, ignorando o apelo da diversão fácil do cinema. Achei que as lojas pareciam diferentes demais do que eu lembrava, quanto tempo será que eu não venho aqui? Parecia que hoje a sensação de esquecimento me perseguia em cada esquina.
Na frente de uma loja de roupas, de relance na vitrine vi uma velha meio suja refletida, tomando um pequeno susto, resolvi entrar.
– Gostaria de um copo de água?  ofereceu a vendedora, que, por algum motivo, parecia ter pena de mim. Seus olhos, contudo, eram tão bondosos, que aceitei o oferecimento com um aceno positivo de cabeça.
Bebi a água fornecida num copo descartável e a entornei de uma só vez, estava com sede também, sede demais.
- Você só não pode demorar muito, por que o gerente já vai chegar e ele não gosta que eu ofereça água para quem não é cliente. – falou a moça meio que se desculpando.   
Agradeci, mas saí ofendida, como ela poderia supor que eu não era uma cliente?
Esbarrei num jovem aflito na saída da Loja, que parecia estar procurando alguém.  – Mãe, graças a Deus que eu te achei, onde você foi? Não faz isso mãe, não faz não. – Falou o jovem que me abraçava efusivamente enquanto atropelava as palavras.
Como ele parecia confuso, tive pena, talvez fossem as drogas. Já pensou eu com filho de barba? Ele até me parecia familiar, mas era impossível, é claro que eu lembraria.
- Que é isso menino, eu te conheço? Falei com firmeza, ainda que suavizando com um sorriso no final, não queria confusão.
- Mãe, você piorou! – Lamentou o rapaz -  Faz três dias que você sumiu, te procuramos por toda parte. Onde você estava?
Fiz um esforço para recordar onde estive nos últimos dias, e eu simplesmente não lembrava. Voltou aquela sensação de que em algum lugar no meio do caminho eu tinha perdido... que lindo pássaro!

Publicado na coletânea de Contos e Poesias da 2ª Edição do Concurso Literário TJPE - O Judiciário em conto e verso - Realizado em agosto 2016

terça-feira, 13 de julho de 2010

Rock YOU! Feliz dia mundial do Rock!

O dia mundial do Rock começou a ser comemorado em 13 de julho de 1985, quando Bob Geldof organizou o Live Aid, um show simultâneo em Londres na Inglaterra e na Filadélfia nos Estados Unidos. O objetivo principal era o fim da fome na Etiópia e contou com a presença de artistas como The Who, Status Quo, Led Zeppelin, Dire Straits, Madonna, Queen, Joan Baez, David Bowie, BB King, Mick Jagger, Sting, Scorpions, U2, Paul McCartney, Phil Collins (que tocou nos dois lugares), Eric Clapton e Black Sabbath. (fonte: Wikipédia)

Com tantos shows e festivais de rock todo ano, e em todos os lugares do mundo, o fato de a data ter ficado marcada justamente num concerto de rock em que se chamava atenção para o problema da fome num país de terceiro mundo, me fez sentir orgulho em dizer, doa em quem doer, que eu viverei eternamente ouvindo rock.

Sim, serei uma eterna apaixonada por rock de qualidade, pela execução bem feita de cada arranjo, no amor em que se combina a letra e a música, sempre vou querer ouvir o grande número de composições que me faz querer cantar, dançar, pensar, sorrir, gritar, pular.

Quero viciar em bandas ou cantores novos, e decorar cada música vibrar e me emocionar com o infinito universo criativo do Rock. Mas, claro, nunca esquecer as minhas antigas paixões musicais, e matar aquelas saudades que dão de vez em quando.

Quero músicas que mostrem o certo e o errado. Quero as toadas da dor, da raiva, do prazer, do amor, das verdades e mentiras do mundo.

Recuso-me peremptoriamente a “crescer” e aderir as baladas de pagode, axé e adjacências, a sentar e ouvir aquele forró da moda, que todas as bandas tocam repetidamente, inclusive no mesmo show, nesses festivais que tem por aqui, com qualidade bem questionável.

Não dá. Respeito quem gosta, tolero quando tenho inevitavelmente que ouvir. Hoje em dia até para não ser chata demais, tiro onda, danço as modinhas da época nas festas dos amigos, mas sempre com uma pitadinha de humor porque senão não dá.

Meu coração é Rock and Roll!

Só para ilustrar melhor, segue uma piadinha que recebi na net.


Dois homens condenados à cadeira elétrica foram levados para a mesma ante-sala no dia da execução.

O padre lhes deu a extrema unção, o carcereiro fez o discurso formal e uma prece final foi rezada pelos participantes.

O carrasco, voltando-se ao primeiro homem, perguntou:

- Você tem um último pedido?

- Tenho. Como eu adoro pagode, gostaria de ouvir o CD dos Travessos, Negritude Jr., Karametade, Katinguelê, Os Morenos, o Belo e pela última vez antes de morrer, se for possível, os CDs do É O Tchan, Araketu, KI-Loucura e do Créu.

- Ok!

O carrasco virou para o segundo condenado e perguntou:

- E você, qual seu último pedido?

- Posso morrer primeiro?